Conheça o nosso trabalho, os procedimentos realizados e entenda um pouco mais sobre as principais doenças que acometem cães e gatos.
Os ligamentos cruzados são estruturas extremamente importantes na estabilização do joelho. A ruptura ou insuficiência é muito comum na casuística de pequenos animais e é uma das principais causas de doença articular degenerativa nesse local. Com a lesão, ocorre instabilidade articular durante o movimento com deslocamento cranial da tíbia e rotação interna desta em relação ao fêmur. A ruptura ou insuficiência pode acontecer em cães de qualquer idade ou peso, mas é muito frequente em cães adultos jovens, de raças de grande porte e com sobrepeso. Algumas doenças do sistema endócrino, que acontecem principalmente em cães mais velhos e de raças pequenas, também predispõem a lesão no ligamento cruzado por enfraquecimento de suas fibras de colágeno. O diagnóstico é clínico, por meio do teste de gaveta1 e de compressão tibial2, onde é testada a estabilidade ou instabilidade articular. Além disso, a maneira como o seu cão senta também nos informa sobre a presença da instabilidade articular, pois, devido à dor, o animal evita colocar a região do calcâneo sob o ísquio e deixa o membro esticado3.
Quanto mais tempo se passa da lesão ao tratamento, pior será o resultado final, com presença de espessamento periarticular bem evidente na face medial do joelho afetado. O exame radiográfico é essencial para avaliação do ângulo do platô tibial (TPA - tibial plateau angle)4 e escolha da melhor técnica indicada para o paciente. Existem várias opções de tratamento que podem ser empregadas e, normalmente, a escolha dentre elas varia desde preferência individual do cirurgião, até o valor do ângulo do platô, o tamanho e a idade do paciente, a anatomia da tíbia proximal e se existem alterações ou doenças concomitantes à lesão do cruzado. Usualmente, lesões crônicas estão associadas à rupturas no menisco medial, devido ao tempo de instabilidade articular, e os meniscos sempre devem ser avaliados durante o procedimento cirúrgico5.
1. TPLO (Tibial Plato Leveling Osteotomy) Osteotomia do Platô Tibial
A TPLO1 é uma das técnicas de osteotomia corretiva para reparação da insuficiência do ligamento cruzado cranial. Atualmente, é a técnica mais utilizada pelos ortopedistas em todo o mundo e, assim como a TCWO, visa reduzir o ângulo do platô tibial, mas de uma maneira diferente: neutralizando a força de translação tibial cranial. Nessa técnica, realiza-se uma osteotomia circular da tíbia proximal, com rotação caudal do platô tibial e posterior fixação com placa e parafuso2, reduzindo o ângulo do platô tibial para 5-6 graus. Dentre as vantagens, há a precisão geométrica da rotação do platô (podendo ser utilizada em cães com platôs altos, acima de 28 graus) e a manutenção da anatomia da tuberosidade da tíbia e da articulação femoropatelar. Além disso, também promove o apoio precoce do membro no pós-operatório e apresenta índices de recuperação excelentes em mais de 90% dos casos. As desvantagens incluem maior tensão sobre o ligamento cruzado caudal e complicações, como lesão da artéria poplítea, fratura da crista da tíbia, fratura da fíbula, lesão de menisco medial e tendinite patelar. Em platôs extremamente altos (maiores de 40 graus), a TPLO deve ser associada a outra técnica, para evitar uma rotação excessiva do platô tibial. No pós-operatório, os cuidados envolvem controle da dor e restrição de atividades até que ocorra a consolidação óssea. É importante ressaltar que a fisioterapia é uma forte aliada para uma melhor e mais rápida recuperação ortopédica.
2. TTA (Tibial Tuberosity Advancement) Avanço da Tuberosidade Tibial
Desenvolvida em 2002, essa técnica foi concebida na Suíça por pesquisadores que basearam seus estudos na análise biomecânica do joelho humano. Assim, ela consiste na modificação biomecânica do joelho, proporcionando estabilidade funcional durante a sustentação do peso. A TTA1 desloca cranialmente a crista tibial para alterar a direção da força no tendão patelar, neutralizando o impulso tibial cranial por meio da colocação do tendão patelar perpendicular ao platô da tíbia durante a deambulação. Nessa cirurgia, é importante que o exame radiográfico médio lateral do paciente inclua o tarso, a tíbia e o fêmur em uma angulação aproximada de 135 graus, que é o ângulo de apoio normal do joelho canino. Além disso, ela deve ser utilizada em platôs com, no máximo, 27 graus, pois, acima desse valor, a estabilização articular adequada não é possível. É feita uma osteotomia proximal perpendicular ao plano sagital da tíbia, que deve ser cranial ao menisco medial e ao tendão do músculo extensor digital longo, terminando distalmente no final da crista. A placa designada para esse fim é fixada juntamente com o "cage" (espaçador) de titânio escolhido, visando manter o tendão patelar na posição definida no estudo radiográfico prévio.
3. CBLO (CORA Based Leveling Osteotomy) Osteotomia Niveladora Baseada no CORA
Foi a última técnica descrita e desenvolvida para tratar da ruptura ou insuficiência do LCCr em cães. Ela consiste em uma osteotomia radial proximal da osteotomia radial proximal da tíbia, baseada no CORA, com posterior rotação cranial deste segmento proximal e fixação com placa dedicada e parafuso compressivo, mantendo o TPA entre 8 e 14 graus
. Foi desenvolvida pelo professor Hulse e baseada na ideia de que a tíbia não é um osso retilíneo no plano sagital mediano e, assim, ela possui um centro de rotação da angulação (CORA)1 proximal. A mudança no eixo anatômico baseada no CORA, por meio da osteotomia radial, irá diminuir o ângulo do platô tibial estabilizando o joelho e neutralizando a força de cisalhamento tibial. O planejamento é baseado no exame radiográfico, na projeção ML (médio lateral), e é muito similar ao da TPLO no que diz respeito ao cálculo do TPA. Posterior a esse primeiro passo, eixos são traçados, a lâmina radial de osteotomia é escolhida e, por meio de programas de imagem, a cirurgia "virtualmente"2 é feita para escolha do tamanho da placa e avaliação do resultado final. Após isso, tudo o que for planejado no computador pode ser aplicado ao paciente no centro cirúrgico. A grande vantagem é que essa técnica pode ser realizada em filhotes com linhas de crescimento da tíbia proximal abertas e em platôs elevados sem a necessidade de outros implantes, por meio de cortes duplos3.
4. TCWO (Tibial Closing Wedge Osteotomy) Osteotomia em Cunha de Fechamento da Tíbia
A TCWO é uma técnica de osteotomia para correção da insuficiência do ligamento cruzado cranial de cães que visa diminuir o ângulo do platô tibial para anular o deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur, como em todas as outras técnicas descritas para o tratamento dessa lesão. Após o planejamento radiográfico, na projeção médio lateral da tíbia, é retirada uma cunha de tamanho pré-calculado para que, no final do procedimento, o TPA fique entre 5 e 6,5 graus1, como na TPLO. Para a fixação dos segmentos, pode-se utilizar vários tipos de placas que se adaptem2 à morfologia da tíbia proximal, desde placas em T, retas ou até mesmo as de TPLO. Essa técnica não é indicada para TPAs acima de 30 graus, pois há a possibilidade de acarretar hiperextensão do joelho. A grande vantagem desse método é que ele pode ser utilizado em associação a outros procedimentos para corrigir um desvio angular de tíbia, em casos de patela alta ou quando os platôs são muito elevados, podendo ser associada com a TPLO.
Doença extremamente comum que acomete o joelho de cães, principalmente os de raças miniatura e de pequeno porte. Essa alteração pode ser congênita ou traumática, sendo a luxação medial congênita a de maior incidência. Nos cães, o deslocamento patelar ocorre devido a deformidades angulares presentes no fêmur, na tíbia ou em ambos os ossos. Sinais clínicos variam de acordo com o grau da luxação, desde claudicação leve e esporádica a moderada1, e até graves2 alterações locomotoras com luxação permanente e severas deformidades angulares, rotacionais e de tecidos moles. O diagnóstico é baseado no exame físico, radiográfico e, algumas vezes, até a tomografia com reconstrução anatômica3 é necessária para o estudo e compreensão das deformidades anatômicas presentes no membro do animal. O tratamento4 é baseado na correção das anormalidades ósseas e de tecidos moles presentes e ,normalmente, consiste na associação de diversas técnicas cirúrgicas, tais como: imbricação da fáscia lata, sutura antirrotacional, desmotomia medial, trocleoplastia em cunha, bloco ou por abrasão, transposição da tuberosidade tibial e osteotomias cuneiformes. O prognóstico depende das anormalidades ósseas presentes no tempo da correção cirúrgica, que é indicada assim que o paciente começar a apresentar sinais clínicos, independente da idade.
A displasia coxofemoral1 é uma doença de característica genética e poligênica envolvendo uma ou ambas as articulações do quadril. O problema pode estar relacionado ao acetábulo, ao fêmur ou a ambos os ossos dessa articulação. Fatores nutricionais (sobrepeso) e relacionados ao meio ambiente (como pisos lisos e escorregadios) podem piorar a manifestação da doença. Os sinais clínicos aparecem em qualquer idade (animais jovens, adultos ou idosos) e estão relacionados com a gravidade da doença. Incluímos desde dificuldade em levantar, sentar, pular, subir escadas, dorso arqueado, alteração na marcha2, deslocamento do peso para os membros anteriores até decúbito prolongado e úlceras ou feridas devido ao longo tempo deitado em piso duro. Ela pode acometer gatos e cães de todos os tamanhos, mas é mais frequente em cães de raças de grande porte. O diagnóstico é baseado no exame físico3 e radiográfico. Atualmente, há um tipo de exame radiográfico, denominado PennHIP, que pode prever o aparecimento da doença em filhotes bem jovens e assintomáticos. Existem várias técnicas cirúrgicas que podem ser empregadas de acordo com o tamanho do animal, o nível de atividade física, a idade e o grau da displasia. O diagnóstico precoce possibilita um melhor prognóstico e mais qualidade de vida ao animal.
1. Denervação
Em 1997, foi desenvolvida a técnica de denervação da cápsula articular por meio da secção de fibras sensitivas dos nervos glúteo cranial e ciático na região crânio lateral e dorsal do acetábulo1. Com a remoção (neurectomia) dessas fibras sensitivas no periósteo, conseguimos promover analgesia imediata dos pacientes que sofrem com as alterações degenerativas nessa articulação, provocadas pela presença da displasia. É importante ressaltar que essa técnica é aplicada somente para controle da dor, ou seja, não é um procedimento curativo. Sua principal vantagem é o rápido retorno às atividades normais por meio de um procedimento breve e pouco invasivo, com melhora na qualidade de vida do paciente e diminuição significativa da dor e da claudicação. Vale ressaltar que, nessa técnica, quanto pior for o grau de osteoartrose2 e dor, melhor será o resultado pós-operatório do animal.
2. Sinfisiodese Púbica Juvenil
Já sabemos que o tratamento para a displasia pode ser conservativo ou cirúrgico. Nesse caso, o tratamento cirúrgico pode ser preventivo*, paliativo ou de salvamento. Uma das técnicas preventivas é a Sinfisiodese Púbica Juvenil. Ela deve ser feita em pacientes com idade inferior a 20 semanas e que não apresentem doença articular degenerativa. É uma técnica de fácil execução, que trata as duas articulações coxofemorais simultaneamente e resulta em uma maior cobertura do acetábulo sobre a cabeça femoral, por meio da ablação térmica1 da linha de crescimento da sínfise púbica. O diagnóstico precoce da DCF é importante para evitar o agravamento da doença e permitir que tais medidas preventivas sejam adotadas. Nesse procedimento, o PennHIP é a técnica radiográfica indispensável para diagnosticar
precocemente a doença.
*A DCF é uma doença de caráter genético, portanto, o tratamento cirúrgico é considerado preventivo apenas quanto à evolução da doença, por ser feito de maneira muito precoce.
3. Ressecção da Cabeça e Colo Femorais
A técnica de ressecção de cabeça e colo femorais consiste, como o próprio nome diz, na remoção cirúrgica destas duas estruturas anatômicas1 que fazem parte da articulação coxofemoral. O intuito é a retirada da área de contato entre o fêmur e acetábulo, realizada por meio de uma serra oscilante, para alívio da dor e posterior formação de uma fibrose tecidual no local, que irá agir como uma pseudoartrose ou “articulação falsa2”. Essa técnica não é somente empregada nos casos da displasia, visto que outras doenças também podem ser tratadas por ela, como a necrose asséptica da cabeça do fêmur, fraturas cominutivas da cabeça femoral ou mesmo a luxação coxofemoral traumática onde o reposicionamento não é mais possível ou indicado. Como desvantagem, temos um ligeiro encurtamento do membro, que os cães e gatos compensam durante a marcha e, apesar de poder ser empregada em todos os cães3, apresenta um resultado melhor em pacientes com peso inferior à 25 kg. Além disso, necessita de reabilitação no período pós-operatório para que ocorra o rápido retorno às atividades normais com diminuição significativa da dor e claudicação.
4. Osteotomia Dupla ou Tripla de Pelve (ODP ou OTP)
Quando realizamos o diagnóstico precoce da displasia coxofemoral em cães jovens, as osteotomias pélvicas corretivas, como a osteotomia pélvica dupla (OPD) ou tripla (OPT), podem ser utilizadas para impedir ou minimizar a subluxação do quadril e o subsequente desenvolvimento da osteoartrose. Essas técnicas visam a melhora da cobertura da cabeça femoral por meio da ventroversão da borda acetabular dorsal. Elas possuem esses nomes pois são realizadas três osteotomias (íleo, ísquio e púbis) ou somente duas (excluindo o ísquio). Em ambas as situações, vários pré-requisitos são necessários e é realizado um minucioso exame ortopédico, no qual avaliamos os ângulos de subluxação (AS) e de redução (AR) e são feitos cálculos por meio, principalmente, da tomografia computadorizada, avaliando o ângulo da borda acetabular dorsal (DAR). É essencial também que o ângulo de distração (DI), calculado por meio da técnica radiográfica PennHIP, não seja muito elevado. Se os pré-requisitos são aceitos, o cão pode passar pelo procedimento, e é importante, no caso da osteotomia dupla, que o paciente tenha idade inferior a sete meses e presença de linhas abertas de crescimento do púbis e da cabeça do fêmur. Na dupla, é feita uma osteotomia no íleo e ostectomia do púbis com posterior aplicação de placa dedicada no íleo1, com um ângulo pré-definido baseado nos estudos prévios, melhorando a cobertura da cabeça femoral pela ventroversão acetabular2. No caso da osteotomia tripla, adicionalmente é feita a osteotomia no ísquio com sequência cirúrgica igual à da osteotomia dupla. Muitos pré-requisitos devem ser obedecidos para que ambas as técnicas melhorem a congruência acetabular e o cão não desenvolva osteartrose.
O desvio ou deformidade angular é uma doença ortopédica do desenvolvimento, quando as linhas de crescimento estão abertas e sujeitas a lesões. Na presença de um evento traumático, seu desenvolvimento normal pode ser afetado e, dessa maneira, o membro começa a deformar em qualquer plano. Em algumas raças, não existe o componente
traumático, e sim uma fise, que tem seu crescimento retardardo em comparação ao normal. O caso mais típico na veterinária são os desvios angulares do antebraço devido a um fechamento precoce da linha de crescimento distal da
ulna. Com esse fechamento a ulna interrompe (ou atrasa) seu crescimento longitudinal, enquanto o rádio continua seu desenvolvimento normal. Assim, o braço começa a entortar lateralmente e cranialmente e, como consequência, ocorrem alterações nas articulações adjacentes (do carpo e cotovelo). Em animais de pelagem longa, é realmente difícil de observar essa alteração no início da doença, principalmente quando os cães ainda são assintomáticos. Entretanto, é nessa fase que o tratamento, exclusivamente cirúrgico, apresenta os melhores resultados, pois as cirurgias são menos invasivas e as deformidades são de pouca magnitude. O tratamento depende de exames radiográficos em posições específicas, mas, em casos mais severos, os planejamentos cirúrgicos só podem ser realizados após tomografia1 computadorizada com posterior reconstrução anatômica com modelo 3D , normalmente de ambos os membros, pois o cálculo é baseado nos valores encontrados no membro normal. Podemos, inclusive, imprimir os guias de corte2 autoclaváveis para a execução perfeita do procedimento planejado. Nesse caso, o cirurgião realiza o procedimento no modelo anatômico, escolhendo o melhor implante para o paciente e minimizando o tempo anestésico na cirurgia. Os implantes escolhidos dependem do tipo de deformidade, da localização, da idade do animal e vão desde placas até fixadores externos circulares com motores. O prognóstico é baseado na severidade da deformidade3 e sempre será melhor no início dos sinais clínicos, que não necessariamente será a claudicação, mas um desvio angular visivelmente presente no membro.
1. Tomografia dos membros torácicos D e E para cálculo da deformidade presente e planejamento da técnica a ser empregada.
2. A) Guias de corte impressos para facilitar o procedimento cirúrgico. Esses guias são impressos de acordo com o planejamento do cirurgião. B) Implantes aplicados no modelo anatômico 3D após os cortes previamente calculados em programa.
2. A) Modelo anatômico do planejamento pré operatório. B) Exame radiográfico pós operatório imediato, com correção das severas deformidades presentes neste cão.
Fraturas1 ou luxações2 acontecem por lesões traumáticas (na maioria dos casos) ou patológicas (doenças ósseas ou tumores) que afetam os ossos ou as articulações dos pacientes. Dependendo da raça (cães too ou miniaturas), até o simples descer do sofá ou da cama pode acarretar uma fratura no antebraço, bem próxima à articulação da mão. Acontece uma ruptura óssea (completa ou incompleta) ou lesão ligamentar, afetando a marcha normal do animal3 e, invariavelmente, acompanhada de muita dor, deformidade, inchaço e impotência funcional. O diagnóstico é clínico e radiográfico. Existem muitas técnicas de tratamento, desde as conservativas (com talas e bandagens) até as cirúrgicas, com os mais diferentes tipos de implantes4 que podem ser utilizados para esse fim (placas, pinos, fios de aço, hastes bloqueadas, fixadores externos). Curiosamente, alguns ossos já possuem placas especiais feitas exclusivamente para eles, com um formato compatível à anatomia do local. Lembrando que as fraturas envolvendo articulações (classificadas como fraturas de Salter Harris) devem ser tratadas como prioridade e, nesses casos, sempre com tratamento cirúrgico , por meio de redução anatômica e compressão interfragmentar5. Não pode existir nenhuma discrepância na superfície articular, pois isso pode acarretar a presença de degeneração cartilagínea precoce (doença articular degenerativa). No pós-operatório será essencial que o animal (cão ou gato) faça repouso até que o ortopedista, por meio do exame radiográfico, avalie a consolidação óssea e o libere para uma vida normal. Muitas pessoas ainda acreditam que uma fratura é sinônimo de sequela ao sistema locomotor, mas esse é um conceito equivocado. Com o tratamento correto e o cuidado pós-operatório adequado, o paciente poderá retornar às atividades normais após a consolidação da fratura, sem dor ou alterações na marcha.
As discopatias ocorrem com grande frequência tanto em cães adultos jovens, como de meia-idade ou idosos. São mais comuns em animais condrodistróficos (tal qual as raças teckel, lhasa apso, buldogue etc.) , mas também acometem os não-condrodistróficos. Os sinais clínicos variam de acordo com a localização, o grau de lesão e o tempo de evolução. Os cães podem apresentar dor1, claudicação, ataxia2, deficiência proprioceptiva, paresia ou paralisia, além de tetraparesia ou tetraplegia. O diagnóstico é realizado por meio de exame físico e neurológico, e deve ser complementado com exames específicos de imagem, como a tomografia3 e ressonância magnética. O tratamento varia de acordo com o local, o tempo de lesão e os sinais clínicos e neurológicos apresentados. Muitas vezes, a lesão aguda tem sintomatologia mais grave e deve ser tratada como emergência. Lesões de hérnia de disco crônicas normalmente têm caráter menos emergenciais, pois o disco comprime progressivamente a medula, que se adapta ao diâmetro menor do canal medular. Em contrapartida, esses animais sofrem com dor crônica e podem ter uma recuperação mais lenta após o tratamento. Entretanto, em ambas as condições, o tratamento visa a descompressão medular4 pela técnica que o cirurgião achar mais pertinente para o caso clínico, de acordo com o exame neurológico e as imagens obtidas pela tomografia ou ressonância magnética (hemilaminectomia5, laminectomia ou pediculectomia).
A cauda equina é a porção final da medula1, na região da coluna lombossacra, na qual a medula deixa de ser um tubo único e se ramifica em vários feixes nervosos, aparentando uma cauda de cavalo e dando origem ao nome. Essa doença é causada por uma degeneração e protrusão do disco intervertebral de L7-S12 pra dentro do canal vertebral, além da subluxação das facetas articulares dessas vértebras e da hipertrofia do ligamento amarelo. Devido à instabilidade crônica, com frequência é notada uma espondilose ventral, popularmente conhecida como "bico de papagaio3". Essa região também é frequentemente acometida por fraturas, luxações, tumores e discoespondilite. Os sintomas e sinais clínicos são: dor, dificuldade locomotora, fraqueza, incontinência urinária e fecal, dor na palpação da coluna lombossacra e na elevação da cauda. Comumente, o animal apresenta dor na manipulação da articulação coxofemoral, sinal que pode ser confundido com os de displasia do quadril. Muitas vezes, o paciente também possui evidências radiográficas de displasia coxofemoral, criando uma armadilha para o diagnóstico da estenose lombossacra. O tratamento varia em razão do tipo de lesão encontrada: para hérnias de disco e retirada de tumores extramedulares, a laminectomia dorsal é, na maioria das vezes, a técnica utilizada. Já em casos de fraturas e instabilidades, a estabilização pode ser realizada com pinos, parafusos, cimento ósseo ou aparato pedicular. A discoespondilite é tratada de maneira clínica, mas frequentemente necessita de procedimento cirúrgico para coleta de material para cultura e antibiograma.
Fraturas e luxações vertebrais podem ser traumáticas ou patológicas e geralmente causam compressão da medula espinal e de raizes nervosas. A sintomatologia varia de acordo com a gravidade e a localização da lesão podendo variar desde tetraparesia, paralisia de membros pélvicos, ataxia, ou somente dor. A região frequentemente acometida pelas fraturas e luxações vertebrais é a toracolombar, e as causas mais comuns são os atropelamentos (90%), ferimentos por mordeduras, lesões por arma de fogo e distúrbios neoplásicos (ou menos frequentemente metabólicos) que resultem em desmineralização óssea capaz de gerar uma fratura patológica. O diagnóstico definitivo é feito por meio de exames de imagens. A tomografia computadorizada ou ressonância magnética podem oferecer informações adicionais ao exame radiográfico1, porém geram tempo adicional até o tratamento e risco de piora da lesão pela manipulação extra. A instabilidade gerada por uma fratura vertebral é determinada por meio de um sistema de avaliação onde a vértebra é dividida em 3 compartimentos: dorsal, médio e ventral. Quando dois ou mais compartimentos estão comprometidos, a fratura é considerada instável e deve ser tratada cirurgicamente, assim como pacientes sem função motora (paralisados) e/ou com progressão dos sinais neurológicos ou com presença constante de dor. Os métodos cirúrgicos variam de acordo com a localização da fratura ou luxação e podemos usar placas e parafusos, parafusos e cimento ósseo, parafusos pediculados ou mesmo pinos de Steimann também associados ao cimento ósseo2. Fraturas estáveis e sem compressão do canal medular podem ser tratadas de maneira conservativa, por meio de imobilizações, confinamento em espaço restrito, medicação e reabilitação motora. O prognóstico é difícil de prever e está relacionado ao tipo e gravidade da lesão, localização da fratura ou luxação e com o tempo até instituir o tratamento Portanto, é muito importante que o paciente seja prontamente avaliado por um ortopedista e que o diagnóstico e tratamento sejam feitos o mais rápido possível. Normalmente lesões nas vértebras lombares L6 ou L73 apresentam um prognóstico excelente quanto ao retorno da função.
A instabilidade atlanto axial é uma afecção que afeta cães de raça de pequeno porte (principalmente quando congênita), podendo afetar qualquer animal quando ocorre de maneira traumática. Nesta doença a primeira e segunda vértebras cervicais (C1/Atlas e C2/Áxis) apresentam diferentes graus de subluxação, que podem variar de acordo com a força do trauma e presença de maiores ou menores deformidades congênitas do processo odontoide (hipoplasia ou agenesia1), bem como alterações ligamentares que sustentam essas duas vértebras. Os sinais clínicos na afecção congênita aparecem entre 6 e 18 meses e nos processos traumáticos podem ocorrer em qualquer idade. São eles: dor, ataxia, tetraparesia e tetraplegia. No exame físico, as lesões são do tipo neurônio motor superior e os reflexos motores, tanto dos membros torácicos como dos membros pélvicos, estarão aumentados. Podem ser encontradas deficiências proprioceptivas e perda ou diminuição de dor superficial e profunda nos quatro membros. O diagnóstico é realizado com exame radiográfico simples, onde além das deformidades e presença de fraturas, pode-se visibilizar um aumento do espaço dorsal entre as vértebras C1 e C2. Exames complementares de imagem, como tomografia e a ressonância magnética2 podem ser necessários, principalmente para o planejamento cirúrgico, desenvolvimento de guias para implantes e avaliação dos segmentos medulares. O tratamento pode ser conservativo, com o uso de imobilizações e anti-inflamatórios/analgésicos. Mas, uma vez que os sintomas não regridam ou até mesmo piorem, ou que as alterações ósseas sejam importantes, o tratamento de escolha é cirúrgico. Nele as duas primeiras vértebras são estabilizadas de maneira dorsal ou ventral com diversos tipos de implantes: pinos ou parafusos associados ao cimento ósseo3, placas e parafusos e aparelhos pediculares. O prognóstico, principalmente quando o tratamento é instituído de maneira precoce, varia de reservado a bom. No caso do tratamento conservativo espera-se que uma fibrose ajude na estabilização vertebral em até 6 semanas. Já no tratamento cirúrgico, espera-se que a fusão entre essas vértebras seja concluída em até 8 semanas. Em ambas as formas de tratamento o repouso por 2 meses será necessário, bem como fisioterapia e acupuntura. Depois desse período o animal retorna gradualmente às suas atividades normais.
A osteocondrose1 é uma doença na qual ocorre um distúrbio na ossificação endocondral que, levando à retenção da cartilagem, ou seja, quando um retalho cartilagíneo se solta na superfície articular, passamos a chamar de osteocondrite dissecante2. Essa alteração pode acontecer em todas as articulações, mas é mais frequente na escápulo-umeral, úmero-rádio-ulnar, fêmoro-tíbio-patelar e tíbio-társica de cães em desenvolvimento. Cães de raças grandes e gigantes são mais afetados e raramente ela é diagnosticada em gatos ou cães de pequeno e médio porte. Os machos são mais afetados que as fêmeas e os sinais clínicos aparecem por volta dos 4 aos 8 meses de idade, dependendo da articulação envolvida. Em geral, a claudicação é unilateral e piora após o exercício, mas existem casos em que a doença afeta os dois membros do animal. O diagnóstico é baseado nos achados radiográficos, que, na maioria dos casos, são suficientes para fechar o diagnóstico. No entanto, em alguns animais é necessário a realização da tomografia computadorizada. Como a doença pode ser bilateral, mesmo que o animal apresente sinais clínicos somente de um lado, sempre é indicado que o exame auxiliar de diagnóstico seja feito em ambos os membros. O tratamento é cirúrgico e consiste na artrotomia e na curetagem do local afetado ou remoção do flape cartilagíneo solto no local. Repouso deve ser instituído para que ocorra a cicatrização dos tecidos moles e do local curetado.
É o termo utilizado para descrever um conjunto de doenças (osteocondrose, incongruência articular, não união do processo ancôneo1 e fragmentação do processo coróide medial) que acometem essa articulação nos cães, levando, invariavelmente, a um quadro de osteoartrose e claudicação, havendo um componente hereditário na etiologia de todas elas. A displasia do cotovelo é mais comum em machos de raças de grande porte. Além disso, o sinal clínico inicial é claudicação uni ou bilateral com os membros torácicos2, que piora após os exercícios físicos. Dependendo da doença em questão, o diagnóstico pode ser obtido por meio do exame radiográfico, entretanto, alguns cães irão precisar da tomografia computadorizada3. Ambos os exames devem ser realizados nos dois braços, pois, frequentemente, a alteração é bilateral. O tratamento4 normalmente é cirúrgico e varia de acordo com a doença apresentada e o grau de evolução da degeneração articular. Alguns animais, infelizmente, apresentarão um prognóstico bom apenas a curto prazo. A médio e longo prazo, a osteoartrose irá evoluir e muitos cães poderão apresentar dor crônica devido a severidade dessa síndrome.
3. A) Tomografia de um cão Cane Corso: Fragmento de 1,6 cm do processo coronoide medial fragmentado solto na articulação. B) Reconstrução 3D com a presença do processo coronoide solto (círculo).
A fisioterapia (ou reabilitação veterinária) vem recebendo cada vez mais indicações. Abaixo, você pode conferir as indicações e tirar as principais dúvidas em relação ao tratamento fisioterápico em animais.
· Tratamento da dor muscular e ortopédica;
· Pós-operatórios imediatos ortopédicos e de hérnias de disco;
· Tratamento conservador (sem passar por cirurgia) de hérnias de disco;
· Casos de artroses;
· Poliartrites imunomediadas;
· Para pets idosos, trabalhando os distúrbios cognitivos;
· Para filhotes, fortalecendo a musculatura e trabalhando o equilíbrio para uma vida indoor, evitando lesões comuns em cães que vivem em apartamento;
· Pacientes com patologias de SNC;
· Pacientes amputados por meio do fortalecimento de músculos abdominais e dos membros remanescentes, ensinando o equilíbrio nesta nova etapa de vida;
· Adaptação à cadeira de rodas;
· Adaptação e colocação de órteses e próteses;
· Massoterapia para animais ansiosos ou com muita dor muscular por overtraining;
· Lesões nervosas, como do nervo ciático, por exemplo.
Quantas sessões serão necessárias?
Essa pergunta só pode ser respondida após a avaliação do paciente nos quesitos de idade, cirurgia, breve histórico veterinário e estado geral. Normalmente, é indicado, no mínimo, uma média de 10 sessões.
Qual é a duração de cada sessão?
De 30 minutos a 1 hora, dependendo da fase da reabilitação e também do próprio paciente.
A hidroterapia é necessária para reabilitar?
A maioria dos cães não gosta de água, porém, às vezes a hidroterapia é necessária. De maneira geral, recorremos a ela apenas quando o paciente não responde às terapias convencionais.
As sessões podem ser realizadas em domicílio?
Na maioria dos casos é possível, depende do espaço e do temperamento do pet.
São células com capacidade de se multiplicar e adquirir a funcionalidade de qualquer tecido, promovendo o restabelecimento do órgão ou lesão, tanto sob o aspecto estrutural, como funcional. As células-tronco possuem três características fundamentais que as distinguem de outros tipos celulares: são células indiferenciadas, ou seja, ainda sem função específica, uma célula “neutra”; podem se diferenciar, ou seja, tornarem-se células com funções especializadas; são células com capacidade de autorrenovação, gerando células-filhas idênticas à célula-mãe.
De acordo com sua origem, as células-tronco são divididas em dois grupos: embrionárias (obtidas durante o estágio embrionário de blastocisto) e células-tronco adultas (obtidas de tecidos adultos formados). As células-tronco adultas podem ser hematopoiéticas ou mesenquimais. O tipo de células utilizadas pelo CORA, em parceria com a REGENERA, são as mesenquimais, que apresentam diferenças significantes das demais, como você pode ver abaixo:
Células-tronco mesenquimais: podem ser obtidas através de diversas fontes, como parede do cordão umbilical, porção estromal da medula óssea, polpa dentária, tecido adiposo, entre outras. São células consideradas multipotentes, ou seja, apresentam potencial de se diferenciar nos mais variados tecidos do organismo, como tecido muscular, nervoso, cartilaginoso, ósseo etc.
Células-tronco embrionárias: são isoladas a partir de embriões de, aproximadamente, 5 dias, que estão no estágio denominado blastocisto, apresentando um grande potencial regenerativo, pois são capazes de se diferenciar em
qualquer célula do organismo mamífero. Porém, esse alto potencial de diferenciação pode levar a um crescimento descontrolado (formações tumorais). Existem, ainda, riscos associados à sua utilização terapêutica devido à
rejeição imunológica e alta capacidade mutagênica. Além disso, o uso de CTE apresenta controvérsias por conta de questões éticas e legislativas relativas à destruição de embriões para sua obtenção.
Células-tronco hematopoiéticas: são obtidas apenas por meio do sangue do cordão umbilical e da porção sanguínea da medula óssea. Essas células já apresentam um certo comprometimento com a linhagem sanguínea, ou seja, só podem se diferenciar em células já presentes no sangue.
Há, basicamente, dois tipos de transplantes de células-tronco: o autólogo e o alogênico (ou heterólogo). A seguir, serão
expostas as vantagens e desvantagens de cada um deles.
CTM x idade: as células-tronco presentes nos tecidos do organismo tendem a diminuir constantemente com o passar da idade. Sendo assim, animais mais velhos que necessitem da terapia com células-tronco encontrarão dificuldade na sua obtenção de maneira autóloga.
Condição cirúrgica e anestésica do paciente: há também o problema da condição cirúrgica e anestésica do paciente. Para o transplante autólogo, é necessário anestesiar o paciente para retirada do fragmento de tecido adiposo e, muitos deles, por alguma patologia ou mesmo pela idade, não podem se submeter a esse tipo de procedimento.
Disponibilidade imediata do material: no transplante autólogo é necessário realizar o cultivo do material em laboratório, o que leva em torno de 4 semanas. Já no alogênico, existe um banco de células-tronco, obtidas a partir de doadores saudáveis, favorecendo o implante imediato.
Não há rejeição: as CTM não apresentam em sua superfície moléculas do complexo de histocompatibilidade do tipo II (MHC classe II) e, por esse motivo, são consideradas imunocompatíveis, não ocasionando qualquer tipo de rejeição ou efeito colateral quando injetadas em outro organismo.
A medicina já se encontra em uma nova era, na qual a terapia celular vem transformando o tratamento de doenças. As células-tronco têm a capacidade de se autorenovarem, diferenciarem e adquirir a funcionalidade de qualquer
tecido, promovendo o restabelecimento do órgão ou lesão tanto sob o aspecto estrutural, quanto funcional, podendo ser utilizadas isoladas ou em conjunto com outros tratamentos.
Uma das indicações para o tratamento na ortopedia é a osteoartrose, uma doença que resulta da degeneração articular e que causa diferentes graus de dor, inflamação e dificuldade ou incapacidade locomotora. Tal doença pode advir de
problemas como: displasia coxofemoral, displasia do cotovelo, ruptura do ligamento cruzado, luxação de patela ou qualquer outra doença que cause uma instabilidade articular. Geralmente, os animais nessas condições fazem uso crônico de anti-inflamatórios, analgésicos e condroprotetores.
O grande problema é que os anti-inflamatórios trazem efeitos colaterais significativos e o paciente acaba desenvolvendo outros problemas como alterações renais, hepáticas etc.
Para casos de osteoartrose, os benefícios da terapia com células-tronco são bem reconhecidos. A terapia contribui com a regeneração articular, estimula a produção de líquido sinovial, promove uma ação anti-inflamatória significativa e prolongada, que pode chegar a meses ou anos, além de ter um efeito protetor, retardando a evolução da doença articular degenerativa.
Aproximadamente 80% dos animais apresentam uma importante recuperação na capacidade funcional das articulações tratadas, resultando em diminuição ou extinção da dor à manipulação, maior mobilidade articular e, por conseguinte, melhora na deambulação. Isso permite que o animal exerça ações as quais antes apresentava dificuldade ou estava impossibilitado, como levantar-se, andar ou até mesmo correr.
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